TIRADOS PARA FORA
TIRADOS PARA FORA
Osni de Figueiredo
A palavra grega que deu origem ao termo igreja é Eclésia, que significa “tirados para fora”. E é isso que somos, aqueles tirados para fora do mundo pelo sacrifício de Cristo.
Quem está na igreja foi arrancado do mundo, isto significa deixar para trás tudo aquilo que nos prendia à nossa vida antiga.
Com efeito, a metáfora é plenamente válida, mas me conturba o isolamento descabido que tantos segmentos evangélicos adotaram como comportamento.
Principalmente nestes últimos anos vem ocorrendo terremoto no mundo inteiro, terremoto na Turquia deixou 18 mortos em 2004.
Ainda em 2004, um terremoto de magnitude 9,15, com epicentro a cerca de 600 quilômetros a noroeste de Padang, provocou o tsunami que matou 232 mil pessoas em 11 países banhados pelo oceano Índico. Um dia depois de um forte terremoto seguido de tsunami atingir a região de Samoa Americana e Samoa, na Oceania, deixando ao menos 100 mortos, outro tremor abalou dessa vez a Indonésia.
Terremoto de 8,8 de magnitude que atingiu a região central do Chile na madrugada de sábado (27/02/2010) derrubou prédios e deixou pelo menos 802 mortos, 500 feridos (100 deles em estado grave) e 19 desaparecidos, além de 2 milhões de desalojados.
Um Tremor de magnitude 7 no dia 12 de janeiro de 2010 matou ao menos 200 mil, soterrando casas e igrejas confirmadas mortes de 21 brasileiros.
Em janeiro deste (2010), pelo menos 15 mil pessoas foram afetadas por fortes chuvas na Região Metropolitana do Rio. De acordo com balanço divulgado pela Defesa Civil estadual, foram contabilizados 18 mortos, sendo cinco delas de uma única família, vítima de desabamento e deslizamentos de encostas. Alagamentos e desmoronamentos deixaram 2.306 desalojados e 1.027 desabrigados em várias regiões do Rio.
Em Portugal, o rio madeira também transbordou deixando rastro de destruição.
Só nos primeiros 19 dias do ano(2010) houve terremotos no Haiti, na Argentina, na Papua Nova Guiné, no Irã, na Guatemala, em El Salvador e no Chile. Faltaria-me espaço para falar dos vários flagelos sofrido em todo o mundo enquanto em algumas igrejas, (que vão muito bem, obrigado) passam de largo a exemplo dos religiosos da passagem do bom samaritano citada por Jesus (Lc.10:30). Parece que estão alheios ao mundo em redor, muito ocupados com suas religiosidades para atentar aos clamores dos que sofrem, como altistas espirituais foram tirados do mundo, (com exceções) não vêem a dor dos povos, não se importam com o sofrimento, alguns até os condena em suas mentes atribuindo a tais acontecimentos, juízo divino, para justificar não se envolver, ignorando que muitos evangélicos, irmãos em Cristo também foram vitimados em tais catástrofes.
Ora! Jesus pediu ao Pai não que nos tire do mundo, mas nos livre do mal. Parece que encontraram “Utopia”, termo inventado por Thomas More, que escreveu sobre um lugar novo e puro onde existiria uma sociedade perfeita e autônoma que não precisava nem se envolvia com ninguém.
Diante desta compreensão surrealista de divulgação do amor de Deus, entendo que Deus esta convocando os que não são para envergonhar os que são, inspirando Portinari para com seus pinceis retratar os sofrimentos vividos pelos retirantes que em angustia deixam tudo que amam e saem em busca de sobrevivência com um grito mudo na garganta, Madonna, estrela mundial do pop, para fazer lançamento de obras de construção de escolas para raparigas em Malaui, estimadas em 15 milhões de dólares americanos, homens e mulheres do mundo inteiro são “tocados” para participar deste socorro humanitário, de famosos como Michael Jackson a anônimos como o catador de papelão no Rio de Janeiro são convidados por Deus para entrar nesta brecha como Ciro, o grande rei Persa que foi convocado por Deus para fazer a sua vontade em detrimento do povo escolhido (Is.45:1/44:28- II Cr.36:23) embora nem sabia quem Ele era.
É ocasião para os apocalípticos atribuir estes fenômenos ao fim do mundo, ou volta de Cristo.
Lembrando os povos da antiga Mesopotâmia que de orientação politeísta recorriam a vários intercessores predeterminado para cada situação, com certeza recorreriam a Enlil, que era considerado o conector entre o Céu e a Terra, responsável pelo distanciamento entre os mesmos sendo senhor dos ventos e do ar, a humanidade continua a mesma, na Irlanda chamariam por São Patrício, em Portugal clamam por Santa Bárbara, no Brasil por Nossa Senhora Aparecida, na Etiópia São Jorge, no Irão têm uma explicação insólita: "Muitas mulheres que não se vestem de forma modesta, desviam os jovens do caminho justo e espalham o adultério na sociedade, o que faz aumentar os terremotos ". Quem o afirma é o líder religioso Hojatoleslam Kazem Sedighi num sermão feito na Universidade de Teerão, certo é que o povo carece de conhecimento de Deus para se achegar a Ele e ser salvo, andam errantes como ovelhas sem pastor, como diz Ezequiel: “vivo eu, diz o Senhor DEUS, que, porquanto as minhas ovelhas foram entregues à rapina, e as minhas ovelhas vieram a servir de pasto a todas as feras do campo, por falta de pastor, e os meus pastores não procuraram as minhas ovelhas; e os pastores apascentaram a si mesmos, e não apascentaram as minhas ovelhas;”(Ezequiel 34:8).
Faz-me lembrar uma brincadeira que me disse meu irmão quando aceitei o evangelho ao me dizer que agora eu era mais um pidão e chorão, será que o evangelho é sinônimo de egoísmo, formalismo e mendicância espiritual corporativista, como a sanguessuga e suas duas filham que nunca se fartam?
Calvino entendia que a igreja deve exercer, nesse sentido, um tríplice ministério – didático, político e social. O primeiro aspecto aponta para a necessidade de continua instrução pública e particular a respeito da temática social. O reformador fez isso através do púlpito e dos seus escritos, particularmente os seus comentários bíblicos, ao abordar tópicos como a providência de Deus, trabalho e descanso, a mordomia dos bens e os deveres dos cristãos para com o próximo. Calvino partia da premissa bíblica de que todas as dádivas da criação pertencem a Deus e se destinam ao usufruto dos seres humanos. Portanto, a comunidade deve distribuir os recursos dados por Deus com vistas ao bem comum, pois é inescusável que alguns indivíduos tenham abundância e outros passem necessidade. A ética social calvinista fundamenta-se na solidariedade e generosidade que repudia a ganância e a insensibilidade. Todavia, a beneficência cristã não deve praticada por mera obrigação ou legalismo, e sim como um ato de compaixão, espontaneidade e liberalidade.
O povo é estigmatizado pelas pregações que ouvem constantemente ligando um fato ou personagem bíblico á exposição mais costumeira apresentada em suas reuniões, quando se fala em Jesabel, esposa do rei Acabe, vem-lhes a mente as pinturas, vaidades e enfeites femininos e não a idolatria, o genocídio de profetas e o domínio sobre seu marido praticado por ela. Quando se fala em Sodoma e Gomorra, lembram-se da promiscuidade destacada pela maioria dos pregadores e não se adiciona a insensibilidade, desprezo pelos pobres e a ostentação conforme denuncia novamente Ezequiel “Eis que esta foi a iniqüidade de Sodoma, tua irmã: Soberba, fartura de pão, e abundância de ociosidade teve ela e suas filhas; mas nunca fortaleceu a mão do pobre e do necessitado”.(Ezequiel 16:49)
Admitindo a exceção, é tempo de a igreja, que foi tirada para fora da pecaminosidade do mundo, saia da clausura e dos aconchegos de seus templos suntuosos comovidos em amor e adentre o mundo, o qual Deus amou a ponto de enviar seu Filho e conduza-os a Cristo e participe mais acirradamente dos problemas externos como despenseiros da multiforme graça de Deus municiada com o dom do Consolador. “Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. (I Pedro 4:10)”.
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